A raça Brangus vem se popularizando no Brasil por ter animais resistentes e adaptáveis a climas mais quentes, como o tropical e subtropical brasileiros. Isso sem perder as características desejáveis do Angus. Por exemplo, a qualidade da carne.

A raça sintética tem tido resultados positivos, tanto que já conta com associação própria e pesquisas de melhoramento em território nacional.

Neste artigo, você verá quais são as características, vantagens e desvantagens dela, bem como o potencial de mercado para a criação desses animais. Acompanhe!

Origem e características da raça Brangus

A raça Brangus é inicialmente resultado do cruzamento entre o gado Aberdeen Angus, um taurino oriundo da Escócia, e do Brahman, um zebuíno de origem indiana. Em termos temporais, já são mais de cem anos da existência dela.

A junção inicial foi feita nos Estados Unidos. Inclusive, os primeiros registros dessa raça artificial remontam a 1912, quando técnicos norte-americanos do Departamento de Agricultura de Jeanerette, Louisiana, começaram os testes para a mistura genética.

No entanto, pecuaristas de outras regiões, como Oklahoma, Texas, e Canadá, também começaram com os acasalamentos para formação de animais com características desejadas. Desde então, a nova raça vem se popularizando pelo mundo.

O Brasil não ficou de fora dos cruzamentos para obtenção do Brangus. Isso porque, a partir da metade da década de 40, técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) começaram testes para a obtenção da nova variedade.

De início, ela foi nomeada de raça Ibagé e, posteriormente, Brangus Ibagé. Afinal, os cruzamentos ocorreram em Bagé (RS).

Outras raças zebuínas também têm sido mescladas com o Angus para geração de crias Brangus, como Guzerá, Tabapuã e Nelore (incluindo a variação Mocho).

Apesar de serem outras variedades zebus e de o Brasil ter batizado a raça com termo próprio, a denominação oficial ficou “Brangus”.

Principais características físicas e comportamentais 

Os animais contam com características físicas positivas, provenientes de heterose. Por exemplo, rusticidade, longevidade e boa fertilidade.
Além disso, tem resistência a ectoparasitas (como carrapatos) e adaptabilidade a condições climáticas tropicais e subtropicais, onde há maior calor. Outros aspectos encontrados na raça sintética são:

Além disso, há precocidade sexual, com as vacas podendo ficar prenhes ao redor dos 15 meses.

Em termos comportamentais, as vacas Brangus contam com boa habilidade materna. O gado, em geral, apresenta temperamento dócil e costuma não ser agressivo.

Vantagens da criação de Brangus 

As características citadas conferem muitos pontos positivos para a criação de Brangus.

Por exemplo, como contam com a qualidade da carne proveniente da genética Angus, inclusive, com “marmorização”, os animais tendem a ter um valor econômico atrativo.

Como mencionado, o Brangus tem boa resistência à infestação de ectoparasitas, uma característica advinda do ramo zebuíno.

Dessa forma, reduz-se a necessidade de tratamentos médicos e veterinários quando comparado a raças puramente taurinas.

Ainda pela parte zebuína temos características que permitem a ele suportar fortes mudanças climáticas, conseguindo se adaptar a vários tipos de clima.

Portanto, um número maior de pecuaristas, em diferentes regiões, pode criar a raça.

Há fêmeas capazes de terem novilhos até depois dos 14 anos, em partos facilitados.

Em geral, os bezerros alcançam pesos elevados na desmama e, depois, na fase sobreano. Os animais também tendem a ter boa longevidade.

Desvantagens da criação de Brangus

Quem deseja fazer uma criação de Brangus a partir da combinação de outras raças pode ter dificuldade com o manejo de touros, especialmente os de raça pura europeia.

Isso porque tendem a ser mais sensíveis a climas quentes, podendo ter baixa fecundidade e dificultando a criação de Brangus em grande escala em regiões de maior calor no Brasil.

Aliás, quanto mais sangue puro de raças de origem europeia nos animais do plantel, mais cuidado é necessário em relação às fragilidades que costumam afetar tais raças.

Além do mais, se não houver um bom acompanhamento dos filhotes, perpassando gerações, pode-se ter problemas no melhoramento genético. Inclusive, perda de características vantajosas herdadas das raças puras.

Em ambos os casos, a dica é buscar apoio de uma organização especializada em genética bovina que atue tanto com inseminação artificial, o que permite lidar com o primeiro desafio apontado, quanto com melhoramento genético.

Dessa forma, é possível montar um rebanho amplo utilizando sêmen de touros reprodutores selecionados.

Outro ponto favorável é a manutenção do nível de qualidade genética do rebanho após gerações, graças ao trabalho de monitoramento e testagem de amostras dessa organização.

Manejo e alimentação da raça Brangus

Os animais podem ser criados em pasto ou confinamento.

O gado também consegue converter forragens grosseiras em material protéico, sendo que os bezerros nascem com baixo peso, mas ganham quilos rapidamente. E isso, inclusive, em meses mais secos. Também há entoure mais cedo.

O ventre das fêmeas passa por pouco desgaste no parto, tornando mais rápida a recuperação pós-parto.

Tal fato contribui para o manejo reprodutivo, pois facilita a repetição de cria e reduz o período entre partos.

Cuidados com a saúde do animal

Embora os animais Brangus sejam resistentes, são necessários alguns pontos de atenção quanto à criação.

Por exemplo, se houver muito sangue de raça europeia no rebanho, será preciso um cuidado maior com as necessidades nutricionais deles, pois elas tendem a ser mais parecidas com as demandas dos puro sangue europeus.

Manejo adequado para melhorar o desempenho do Brangus 

Normalmente, o modo convencional para a boa performance reprodutiva da raça é por o touro Brangus direto no rodeio, em que estão as vacas e novilhas aptas à reprodução. Dessa forma, ocorre a monta natural.

Além disso, existe a técnica de inseminação artificial que permite fertilizar fêmeas com genética de reprodutores selecionados, tanto de raça pura (Angus, Brahman, Nelore etc.) quanto da própria raça artificial. Em outras palavras, exemplares de touro Brangus.

Mercado para a raça Brangus

O mercado para essa raça sintética é similar ao do Angus. A seguir, veja mais sobre o potencial do Brangus!

Perfil do consumidor de carne bovina

O público consumidor de carne bovina é variado, porém há perfis que têm se informado mais sobre aspectos da carne de boi. Alguns até vêm se especializando em cortes, modos de preparo e convenções gastronômicas.

Grande parte disso se deve à popularização das mídias sociais, levando ao aparecimento de influenciadores, profissionais, programas e veículos especializados nos diversos segmentos do mercado de carnes.

Em suma, temos consumidores mais exigentes, com entendimento maior sobre as qualidades de sabor e nutrição da carne bovina.

Inclusive, podendo pagar mais por cortes selecionados. E é justamente esse filão do público que o Brangus atende satisfatoriamente.

Além disso, há um público interessado por criadores, frigoríficos e outros ramos da cadeia que empregam práticas de produção com foco em bem-estar animal e que sejam ambientalmente sustentáveis.

Portanto, tal como o mercado se segmentou, também há diferentes perfis no público que podem ser atendidos.

Tendências de mercado para a carne bovina 

Entre janeiro e novembro de 2022, o volume de carne bovina exportada subiu 22%em relação a 2021. Foram mais de dois milhões de toneladas negociadas. Todavia, estima-se que, nos próximos anos, tenhamos um enfoque maior no mercado interno, com valorização de parcerias tradicionais e aumento dos estoques.

Também há interesse por carne oriunda de criações que tenham maior foco em práticas sanitárias de excelência, uma repercussão da pandemia do coronavírus. De qualquer forma, a estimativa é que haja uma recuperação de 2,9% na produção interna de carne, em 2023, conforme aponta a AgroConab.

A retomada integral da produção interna de gado em outros países, depois da pandemia de COVID-19, pode gerar um mercado vantajoso para a área de exportação de material genético bovino. Para se ter uma ideia, entre janeiro e setembro de 2022, foram exportadas 706.884 doses de sêmenpara o exterior.

Desse montante, 361.056 doses eram de aptidão de corte, os quais foram enviados a 11 países. Em relação aos mesmos meses de 2021, a expansão foi de 11,8%.

Vantagens competitivas da raça Brangus no mercado

O Brangus é específico para corte, tendo vantagens tanto reprodutivas quanto produtoras. Isso confere diferenciais para a criação de Brangus e sua posterior venda no mercado.

Por exemplo, a textura, o sabor e a espessura de gordura conferem alta qualidade à sua carne, tornando-a apreciada pela indústria e pelos consumidores, uma vez que conta com a genética Angus.

Além disso, os animais se reproduzem de maneira natural com facilidade em condições de maior calor, o que nem sempre é possível por exemplares puro Angus. O Brangus ainda conta com precocidade e alto rendimento.

A raça também é comercializada em outros países, como nos EUA. Por isso, é reconhecida internacionalmente, o que já facilita negociações entre produtores locais e estrangeiros. O mesmo vale tanto para a importação quanto para a exportação de genética dessa raça sintética.

Criação de Brangus no Brasi

No Brasil, o começo da criação de Brangus se deu pelo Rio Grande do Sul, em Bagé. Por ter um clima com temperaturas frias em várias épocas do ano, o local favoreceu o estabelecimento e desenvolvimento de raças de origem europeia.

Esse fato, por sua vez, permitiu ter muitos exemplares para os cruzamentos para formação do Brangus. Tanto que, hoje, o Rio Grande do Sul é o estado com mais pecuaristas dessa variedade.

Todavia, como a parte zebuína da raça é adaptável a climas mais quentes, logo o Brangus passou a ser criado em outras partes do Brasil. Atualmente, é possível encontrar rebanhos da raça nas 5 regiões do país, sendo que há criadores de 16 estados, mais o Distrito Federal, vinculados à Associação Brasileira de Brangus (ABB).

Essa entidade foi criada em 1979, tendo diferentes designações até o nome atual. Desde a sua fundação até 2016, 425 mil animais da raça foram registrados pela associação.

Regiões mais propícias para a criação de Brangus

Atualmente, a carne de origem bovina da raça Angus é uma das mais apreciadas, se não a de maior valorização pelo mercado. Isso por conta de suas características, como suculência e sabor elevado, sem falar do marmoreio.

No entanto, é mais difícil aumentar a quantidade de gado Angus, por meio de monta natural, de São Paulo para cima. Afinal, é um animal de origem escocesa que tem certa dificuldade com temperaturas maiores.

Por outro lado, a reprodução natural é possível com a fêmea e o touro Brangus. Dessa forma, obtém-se uma carne similar à do Angus puro, com muitas de suas características de excelência. Isso sem falar em outras combinações de mestiços, bem como do Brangus propriamente dito.

No Brasil Central e no norte do país, essa raça sintética consegue suportar, no verão, temperaturas acima de 35°C ao sol. E quando as médias caem, até mesmo para temperaturas negativas (como no extremo sul do país), esses animais também são resistentes.

Dados e estatísticas da criação da raça no Brasil

A raça Brangus vem crescendo no país. Para se ter uma ideia, o número de cabeças registradas se expandiu 80% entre 2008 e 2018, passando de aproximadamente 6.000 para 10.785 animais. Todavia, isso é subestimado, pois nem todos os criadores registram seus animais.

Outro dado que indica o crescimento da raça é a comercialização de material genético: entre 2018 e 2022, o volume de vendas subiu 94%. Portanto, além da indústria de carne, há mais esse mercado em que o produtor poderá atuar.

Melhoramento genético da raça Brangus

Por si só, a raça é resultado de seleções e cruzamentos com vistas a aproveitar vantagens genéticas zebuínas e taurinas. Para formá-la, a proporção principal é 5/8 de genética Angus e 3/8 de genética zebuína (Brahman, Nelore, Guzerá etc.). Dessa forma, temos 62,5% de sangue Angus e 37,5% de sangue zebuíno.

A partir disso, outras variações e cruzamentos entre mestiços vêm sendo feitas. Inclusive, desde o início dos cruzamentos da raça Brangus até recentemente, cerca de 13 gerações tinham sido estudadas pela Embrapa Pecuária Sul.

Além da adaptabilidade aos diferentes climas brasileiros, a combinação genética entre indivíduos da raça zebuína com exemplares da raça taurina teve como propósito obter animais que conseguissem realizar o pastejo em forragens grosseiras. Essas, por sinal, são frequentes no sul do país. O resultado valorizou o potencial do Brangus.

De qualquer modo, é possível empregar variadas técnicas e tecnologias para seleção e cruzamento, a fim de aprimorar a raça. Por exemplo, com o uso de inseminação artificial com sêmen, oócitos e embriões de exemplares Angus, zebuínos e Brangus.

O gado Brangus é uma opção interessante para produtores de gado que buscam um animal resistente e adaptável ao clima tropical brasileiro. Isso sem perder a qualidade da carne.

Além do mais, o mercado para a carne bovina tem crescido nos últimos anos, o que pode representar uma oportunidade para os produtores da raça Brangus. No entanto, é importante considerar as suas características, bem como as condições de manejo e alimentação adequadas para garantir o sucesso na criação.

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